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Um marco entre o céu e a cidade: a poética do edifício AGE 360


foto: Joana França


Projetar um edifício que estabelece um diálogo profundo com a paisagem urbana e natural exige mais do que técnica: demanda sensibilidade, visão e uma arquitetura que transcenda a forma construída. Em Curitiba, o residencial AGE 360 nasce dessa dualidade entre o pragmatismo e a poética. O edifício integra arte, técnica e propósito, equilibrando inovação estrutural e conexão com o meio ambiente.


Nesta entrevista, o arquiteto Greg Bousquet, fundador da Architects Office, compartilha os desafios e as soluções criativas que moldaram o projeto finalista no MIPIM 2025, vencedor dos selos Rethinking The Future, iF Design Award 2021, GBC Condomínio e do certificado Fitwel – que reconhece obras que colocam a saúde das pessoas como elemento fundamental em sua concepção. 


Do exoesqueleto de concreto que libera os interiores, às jardineiras que entrelaçam o mineral, passando pelas áreas comuns elevadas que redefinem a convivência no espaço vertical, o AGE 360 revela como a arquitetura pode ser, simultaneamente, racional e surpreendente. Uma conversa que convida a refletir sobre a construção de legados urbanos e o papel da arquitetura como ferramenta para imaginar futuros mais sustentáveis e integrados.



foto: Joana França


Como foi equilibrar as demandas do cliente com os desafios específicos do terreno em Curitiba? Greg Bousquet - O briefing do cliente foi claro: criar um marco para o skyline da cidade. Localizado no bairro Ecoville, uma área em expansão e de baixa densidade, o terreno demandava um edifício que se destacasse pela altura e pela relação com o entorno. O cliente pediu uma torre de 124 metros, que fosse visível de diversos pontos da cidade. Essa diretriz nos levou a explorar ao máximo a verticalização, sempre equilibrando estética, funcionalidade e impacto urbano. Lógico que conciliar todos os interesses — do incorporador, dos engenheiros e do conceito arquitetônico — foi uma tarefa intensa. Realizamos workshops e um processo de design thinking para garantir que cada decisão fosse viável e mantivesse o conceito forte. O resultado é um prédio que reflete essas trocas e compromissos, mantendo-se fiel à ideia inicial.


A arquitetura transita entre arte e técnica. De que maneira vocês traduziram elementos objetivos, como topografia e normas legais, em uma abordagem artística que enriquece a conexão entre o edifício e o contexto urbano e cultural de Curitiba? GB - Para nós, arte e técnica são pilares inseparáveis da arquitetura. Sempre começamos com dados tangíveis, como topografia, insolação e as normas do plano diretor. Mas também incorporamos aspectos intangíveis, como história, cultura e sociologia do local. Esse cruzamento entre o objetivo e o subjetivo é o que esculpe nossos projetos, dando a eles uma identidade única e profundamente conectada ao contexto.


Torres de grande altura apresentam desafios estruturais e de funcionalidade. Quais foram as principais inovações do AGE 360 no uso do exoesqueleto de concreto e como isso redefiniu a experiência dos moradores? GB - Dois grandes desafios foram o núcleo de circulação e a estrutura. No caso de torres altas, esses elementos podem consumir muito espaço ou comprometer as vistas. Para resolver isso, optamos por um exoesqueleto de concreto, uma solução que libera os interiores dos apartamentos de pilares, garantindo layouts flexíveis e vistas desobstruídas. Tivemos que realizar inúmeros testes in loco com a construtora para assegurar consistência na textura, tingimento e acabamento do concreto. A uniformidade do exoesqueleto estrutural foi essencial para manter a identidade visual do edifício. No final, achamos que o contraste entre o mineral e o vegetal ficou bem interessante, e a decisão fortaleceu o conceito de integrar o prédio à natureza.


O design do AGE 360 destaca-se pela volumetria singular e pelos chanfros. Como as restrições da legislação local influenciaram essas escolhas e que tipo de experimentação foi necessária para alcançar o resultado final? GB - O mais curioso é que o design vem da própria legislação de Curitiba. Fizemos 48 testes para encontrar o melhor posicionamento da torre no terreno, sempre respeitando as regras locais e buscando eficiência e vistas privilegiadas. A volumetria final, com os chanfros, reflete essas imposições legais e acabou gerando a identidade única do prédio.


O conceito de espaços internos com pé-direito duplo e terraços vegetais traz uma dinâmica única ao projeto. Como essas escolhas impactaram a funcionalidade e a percepção do edifício tanto pelos moradores quanto pelo mercado imobiliário? GB - Isso foi possível porque o plano diretor nos permitiu trabalhar com "vazios" na volumetria. Esses espaços deram origem a duplex e triplex, além de terraços vegetais. A vegetação é essencial para nós, pois queremos sempre um diálogo equilibrado entre o mineral e o orgânico. Neste projeto, optamos por jardineiras embutidas no nível do piso dos terraços. Assim, criamos a sensação de um jardim contínuo, permitindo que todos os moradores tenham acesso direto ao verde. Essa integração não é apenas decorativa; ela conecta os moradores à natureza de forma genuína.


Quais critérios nortearam a escolha das espécies vegetais e como vocês garantiram a viabilidade de sua manutenção ao longo do tempo? GB - Foi fundamental pensar em espécies adequadas à altura do prédio, resistentes ao vento e que não exigissem podas frequentes. Além disso, o acesso às jardineiras é feito pelos terraços, o que simplifica a manutenção, evitando grandes gastos com andaimes. Tudo foi pensado para que funcionasse de forma prática e eficiente, com a experiência de mais de 20 anos em projetos desse tipo.


As áreas comuns foram posicionadas no meio da torre, em vez do térreo. Como essa decisão altera a experiência de convivência e qual é o impacto simbólico de elevar esses espaços ao centro do edifício? GB - Decidimos posicionar áreas como piscina, spa e jardins no meio da torre, em vez do térreo. Isso cria um ponto de encontro democrático, com vistas incríveis tanto para o Parque Barigui quanto para a cidade. Essa decisão não só valoriza a sociabilidade como também reforça o bem-estar dos moradores, colocando-os no centro do projeto. A solução reforça ainda o conceito de 'wellness'. A AG7, incorporadora do projeto, queria um ambiente que promovesse silêncio, bem-estar e reconexão com a natureza. As áreas comuns foram revestidas com madeira natural, criando um contraste harmônico com o concreto e a vegetação. O núcleo do prédio, exposto em algumas áreas, também recebeu esse tratamento para enfatizar a biofilia e o acolhimento.


Na sua visão, quais são os principais legados urbanos que o AGE 360 deixa para Curitiba? GB - A forma como ele combina pragmatismo e estética. Cada decisão foi guiada pela funcionalidade, mas resultou em algo poeticamente integrado ao contexto urbano e natural. O prédio é um exemplo de como a arquitetura pode ser processual, racional e, ao mesmo tempo, surpreendente. Nosso objetivo sempre é deixar um legado positivo, tanto para os moradores quanto para a cidade. Este projeto reflete a nossa filosofia de criar uma arquitetura contextual, que respeita o entorno e as vivências locais, ao mesmo tempo em que propõe soluções inovadoras. A torre não é apenas um marco visual, mas também uma proposta de convivência urbana mais rica e sustentável.







FICHA TÉCNICA


Obra: AGE360

Local (cidade, estado): Curitiba-PR

Data do início projeto (ano): fevereiro 2018

Data da conclusão da obra (ano): novembro 2024

Área do terreno: 3.978m²

Área construída: 18.000m²


Arquitetura: ARCHITECTS OFFICE + Triptyque

Interiores: Suíte Arquitetos

Paisagismo: Renata Tilli

Luminotécnica: Estúdio Carlos Fortes

Acústica: Relacus Realizações Acústicas

Estrutura: Kálkulo

Fundações: MG&A

Elétrica: Lumini Projetos e Soluções

Hidráulica:Vectra

Ar condicionado: Michelena

Construção:TEICH Engenharia

Fotos: Joana França e Roberto Wagner


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