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AO Convida | Elisabete França sobre o arquiteto como agente transformador

Greg Bousquet  e Elisabete França

A reflexão sobre o papel do arquiteto na atualidade é um dos debates que mais tem movido a equipe ARCHITECTS OFFICE (AO). Para aprofundar e enriquecer esse tema, criamos o AO Convida*, encontros trimestrais com personalidades da arquitetura e do mercado imobiliário para uma conversa exclusiva com o time sobre questões teóricas e práticas, tendências e desafios da profissão.


Na última edição, contamos com a participação da arquiteta, urbanista e secretária executiva da Secretaria Municipal de Habitação Elisabete França, com uma extensa experiência acadêmica e de requalificação de espaços públicos, além da busca por alternativas para elevar a qualidade dos projetos de habitação acessível na cidade de São Paulo, a maior cidade da América Latina.


Em conversa com Greg Bousquet, fundador do AO, e mediação de Mariana Barros, da agência de comunicação Cidades 21, Elisabete trouxe alguns pontos relevantes, afirmando que o papel do arquiteto hoje evoluiu para abranger não apenas habilidades técnicas e criativas, mas também a capacidade de coordenar diversas disciplinas e agir como condutor de projetos complexos em prol de impactar positivamente o presente e o futuro de pessoas, bairros e cidades.


No entanto, ela pondera que as escolas de arquitetura muitas vezes deixam lacunas ao preparar os estudantes para esses desafios, resultando em profissionais que se sentem pouco preparados ao entrar no mercado de trabalho.

Para ela, é fundamental aprimorar o ensino de arquitetura no Brasil e reconhecer que vivemos na contemporaneidade, onde as complexidades globais e locais são uma realidade. As universidades então devem preparar os futuros arquitetos para serem articuladores de soluções que respondam da energia à ecologia, transpassando contextos sociais, programáticos e financeiros de cada projeto, independente de sua escala.


O bate-papo passou também por entender como os arquitetos podem contribuir mais com projetos sociais e acessíveis. Elisabete França relembrou os êxitos do Renova SP, um concurso realizado em parceria com a prefeitura em 2011, no qual arquitetos apresentaram projetos para 22 territórios e 17 foram contratados até a etapa de projeto executivo.



Mas devido a questões burocráticas, os projetos não evoluíram. Ou seja, 17 projetos foram pagos e engavetados, algo muito triste do ponto de vista da produção arquitetônica e do investimento público. Elisabete afirma que, para superar dificuldades como essa, arquitetos e entidades como o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) apresentam um papel fundamental. E a iniciativa privada também pode desempenhar um papel importante, desde que haja a valorização do trabalho e colaboração do arquiteto.


No programa Minha Casa Minha Vida, principal vertente da produção habitacional do país, muitas vezes os projetos são executados sem um planejamento adequado.


"É essencial que os arquitetos atuem como facilitadores e não como complicadores nesse processo. A mudança de cultura é fundamental para que os arquitetos possam agregar valor aos projetos, levando em consideração a praticidade e as necessidades dos usuários. A conscientização sobre essa mudança já está ocorrendo no mercado imobiliário em geral, porém ainda falta avançar no segmento popular", disse Elisabete França.

O encontro tratou até mesmo da recém aprovada revisão do Plano Diretor, que para nossa interlocutora muitas vezes falhou em considerar São Paulo de forma mais integrada.


"Existe uma cultura arraigada de enxergar a cidade em termos de centro e periferia, ignorando elementos vitais, como as regiões de mananciais. A falta de planejamento adequado é evidente quando se observa o aumento dos aglomerados subnormais e a poluição das represas. Acredito que mais cinco anos e não vai mais ter água, e ninguém discute isso. O debate sobre reduzir o raio de construção em determinadas áreas não é tão importante quanto discutir formas de promover habitação social nos mananciais e aumentar o investimento nessas regiões", afirmou a urbanista.




A realização do AO Convida segue provocando e inspirando para irmos além das tarefas cotidianas e encararmos a prática arquitetônica como algo integrado a uma realidade maior, mais complexa e determinante para o futuro já extensamente urbano de todos. E acreditamos que seja esse o papel mais desafiador do arquiteto hoje.

 

*Sobre a AO Convida

Para expandirmos horizontes e esculpirmos novas possibilidades, convidamos a equipe AO a participar da nossa nova iniciativa dedicada ao aprimoramento coletivo. O evento "AO Convida" tem encontros trimestrais realizados na Casa AO recebendo personalidades do setor público e privado que de alguma forma se relacionam com o nosso mercado da arquitetura. Envoltos por conversas inspiradoras e pontos de vista surpreendentes em um espaço de troca único e exclusivo para o nosso time AO, o encontro é uma ação interna ARCHITECTS OFFICE.

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