Entre memória e futuro, uma semente de um novo urbanismo
- ARCHITECTS OFFICE

- há 6 dias
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Um projeto da ARCHITECTS OFFICE que investiga novas formas de coexistir e habitar Brasília, entrelaçando memória modernista e visão contemporânea de cidade
Brasília, urbanismo, arquitetura contemporânea, sustentabilidade, masterplan, coexistência, investigação, renaturalização, pertencimento, World Architecture Festival
O diretor de arquitetura da AO, Sávio Jobim, participou do Festival Path, no Cine Belas Artes, em São Paulo, com uma palestra sobre o WTC Biotic, projeto-âncora do novo parque de inovação e biotecnologia de Brasília. O encontro foi um convite à reflexão sobre o papel da arquitetura contemporânea na capital federal – um diálogo que busca interpretar, escutar e revelar novas relações entre memória, contexto e futuro.

Idealizado pela ARCHITECTS OFFICE dentro do masterplan urbano assinado por Carlo Ratti Associati, o projeto se localiza ao norte da Asa Norte, em uma área estratégica de expansão da cidade e de encontro com o Parque Nacional de Brasília. O território ainda em transformação, praticamente sem contexto imediato, tornou-se o ponto de partida de uma investigação que orientou toda a proposta: em vez de apenas responder à paisagem existente, o desafio foi propor contexto – conceber uma semente capaz de instigar um novo modo de coexistir, habitar e pertencer a Brasília.
Construída a partir de uma lógica de setorização funcional e de dependência do automóvel, a cidade apresenta hoje o desafio de integrar monumentalidade e cotidiano, arquitetura e vida urbana. O WTC Biotic nasce dessa leitura: não como negação do que já existe, mas como um prolongamento evolutivo, que acolhe a memória e a identidade da capital enquanto promove novas práticas de uso, escala e sustentabilidade.
Arquitetura como organismo vivo
Com área de 140 mil m², o projeto se estrutura em torno de uma praça central que integra escritórios, residências, hotel e centro de eventos, em um sistema de work, live and play. Essa combinação de usos é o primeiro gesto que revela uma nova dinâmica urbana, rompendo com a monofuncionalidade característica da cidade.
O segundo gesto é formal e conceitual: a criação de uma grande superfície contínua, uma estrutura que entrelaça arquitetura e urbanismo, borra os limites entre edifício e cidade e materializa uma nova forma de convivência. Esse elemento unifica os volumes, produz sombra, gera energia e entrega percursos cobertos e permeáveis, configurando uma arquitetura ao mesmo tempo monumental e habitável.
A forma do edifício é resultado de um processo de racionalização e investigação geométrica e construtiva. A superfície foi decomposta em linhas de contorno a cada 36 centímetros, compatíveis com uma modulação estrutural de 8 por 8 metros, permitindo a criação de um sistema preciso e industrializável. Dentro dessa malha, o projeto combina três funções complementares: placas fotovoltaicas para geração de energia, brises oblíquos para controle solar e floreiras acessíveis que promovem a caminhabilidade e a biodiversidade. O estudo detalhado de insolação e declividade ao longo do ano orienta a inclinação dos planos e o desempenho energético da cobertura, transformando-a em um organismo ambiental ativo.
No térreo, a proposta substitui o paisagismo ornamental por um processo de renaturalização (rewilding), que devolve o solo à vegetação nativa do Cerrado. O resultado é uma base viva e porosa, onde as áreas de convivência se entrelaçam com percursos, praças e jardins de uso público. Surge, assim, a ideia de uma “quadra verde” – uma leitura contemporânea das superquadras brasilienses, mas com novas premissas: menos carro, mais pedestre; menos monumentalidade distante, mais monumentalidade vivida.
Por um urbanismo mais permeável e humano
Para a AO, o WTC Biotic representa uma oportunidade de reimaginar, interpretar e materializar uma nova forma de cidade, sem romper com sua essência. O projeto propõe uma arquitetura capaz de dialogar, envolver e integrar – um organismo que produz energia, acolhe pessoas e devolve a natureza.
Ao mesmo tempo em que reconhece os fundamentos modernistas que conceberam Brasília, o WTC Biotic revela um novo horizonte: o de uma capital do século XXI, mais permeável, humana e viva, onde arquitetura e urbanismo se entrelaçam em um gesto contínuo de pertencimento e coexistência.
“Mais do que um edifício, o WTC Biotic é uma investigação sobre como Brasília pode coexistir com o futuro – integrando natureza, tecnologia e vida urbana em um mesmo gesto de pertencimento.”
Entre mais de 90 países inscritos, o WTC Biotic foi selecionado como finalista do World Architecture Festival 2025, o principal prêmio global da arquitetura contemporânea. Em novembro, em Miami, a AO apresentará o projeto a um júri internacional de especialistas, consolidando-o como uma reflexão viva sobre o papel da arquitetura brasileira em investigar, propor e concretizar novas formas de habitar o futuro – com visão global, enraizamento local e compromisso com o que ainda está por vir.














